terça-feira, 10 de junho de 2008

Doi, eu sei que doi, mas fazer o que? Nessas horas, quando o coração grita, o corpo inflama e a pele arrepia, é que devemos ter a cabeça no lugar, fria e calma, na perfeita espelhitude escocesa, guardando bem fundo esse monstro.
É quando você vê a bifurcação, lá longe bem distante, mas cada passo, a cada dia, lentamente ou com curisco no calcanhar, ela chega, dois caminhos, ou três, talvez mil. Uma só escolha. Falam que é injusto, mas o que mais na vida toda é justa? Caminhar é uma coisa feita por você, por mim, por todos, mas sempre sozinho. Tente desfrutar, mas nunca olhe para trás.

Esse foi um texto pra ser ruim, não quero ele bom, por isso deixo aqui esse poema do Poetinha.

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Era um sujeito meio safado, daqueles que assobiavam para as moças na rua e tecia comentários um tanto quanto maliciosos em relação delas. Era um bom sujeito na verdade. Como todo ser simpático, de ares tranquilos, também era beberrão, apreciador de uma boa e gelada cerveja. Era um ótimo sujeito na verdade. Mas como todo bom sujeito, ele tinha uma mulher, meio assim, meio assado, um tipo nem aqui e nem ali, um cadinho feia, um bocado bonita, daquelas boas para se ter filhos.

Todo dia ele largava o trabalho, lá pelas cinco e meia, assinando sempre as seis - meia horinha de truco com os estagiários era de praxe - e descia pelo elevador. Dentro daquela modernidade ele refletia com o cheiro flautulento a aflorar idéias das mais loucas, sobre o que fazer com o fim do dia. O trabalho era uma merda.

No hall de entrada, ele já sabia que iria tomar umas e outras, sozinho ou acompanhado, dependia do seu humor. Que era sempre instável. Bebia, proseava, jogava. De alma limpa, saía e tomava rumo de casa, cantarolando coisas que ele nem mesmo conhecia.

Chegava em casa, beijava a mulher, que lhe torcia o nariz por causa do bom cheiro do alcool cevado. Tomava seu banho pensando nela. Calçava seu velho calção com um rombo no meio de suas pernas, sentava no sofá, ligava a TV e esperava o jantar. Que nunca vinha. Comia, arrotava, ouvia brados e feliz se levantava.

Lia montanhas de documentos. Sentia o peso da idade. Escovava seus dentes. Fodia, dormia.

De manhã, sentindo-se revigorado pela boa noite de sono, beijava a sua mulher, que num era nem aqui e nem ali, tomava seu café - doce, amargoso - sorrindo feliz e de pança cheia, pegava sua maleta, ajeitava a gravata, dava um outro beijinho nela e saía.

"Vidinha, mais ou menos essa, sô!" - e ele ia...