quarta-feira, 4 de junho de 2008

Era um sujeito meio safado, daqueles que assobiavam para as moças na rua e tecia comentários um tanto quanto maliciosos em relação delas. Era um bom sujeito na verdade. Como todo ser simpático, de ares tranquilos, também era beberrão, apreciador de uma boa e gelada cerveja. Era um ótimo sujeito na verdade. Mas como todo bom sujeito, ele tinha uma mulher, meio assim, meio assado, um tipo nem aqui e nem ali, um cadinho feia, um bocado bonita, daquelas boas para se ter filhos.

Todo dia ele largava o trabalho, lá pelas cinco e meia, assinando sempre as seis - meia horinha de truco com os estagiários era de praxe - e descia pelo elevador. Dentro daquela modernidade ele refletia com o cheiro flautulento a aflorar idéias das mais loucas, sobre o que fazer com o fim do dia. O trabalho era uma merda.

No hall de entrada, ele já sabia que iria tomar umas e outras, sozinho ou acompanhado, dependia do seu humor. Que era sempre instável. Bebia, proseava, jogava. De alma limpa, saía e tomava rumo de casa, cantarolando coisas que ele nem mesmo conhecia.

Chegava em casa, beijava a mulher, que lhe torcia o nariz por causa do bom cheiro do alcool cevado. Tomava seu banho pensando nela. Calçava seu velho calção com um rombo no meio de suas pernas, sentava no sofá, ligava a TV e esperava o jantar. Que nunca vinha. Comia, arrotava, ouvia brados e feliz se levantava.

Lia montanhas de documentos. Sentia o peso da idade. Escovava seus dentes. Fodia, dormia.

De manhã, sentindo-se revigorado pela boa noite de sono, beijava a sua mulher, que num era nem aqui e nem ali, tomava seu café - doce, amargoso - sorrindo feliz e de pança cheia, pegava sua maleta, ajeitava a gravata, dava um outro beijinho nela e saía.

"Vidinha, mais ou menos essa, sô!" - e ele ia...

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